Monday, July 03, 2006

Mais sobre Brasil 0x1 França

Atendendo a um pedido indignado do meu amigo Felipe Melo, o Camarão, vou escrever de forma menos fria sobre o fiasco brasileiro em Frankfurt. Assim como eu e muitas das pessoas que conheço, Felipe nasceu nos últimos anos da década de setenta. A Copa de 2006 foi a última que nós, pessoas nascidas antes de 1980, assistiram antes ultrapassar barreira dos trinta anos.

Não foi fácil ser brasileiro assistindo naquela partida. Se os menores de 20 anos, que nunca souberam o que é uma Copa sem Brasil na final, queriam a revanche de 1998, os quase trintões queriam revanche de 1986, possivelmente a primeira de que têm lembranças mais nítidas.

Em 1986 a frustração estava em ver a geração de Zico se despedir sem um título mundial. A eliminação para a França, nos pênaltis após um empate em um gol (o único que o Brasil levou naquela Copa) com cobranças desperdiçadas pelos infalíveis Zico (no tempo normal), Sócrates e Platini (na disputa decisiva). Eliminados fomos, mas não perdemos com a bola rolando.

Em 1998, mesmo com a hegemonia do futebol no século assegurada após as eliminações de Itália e da Alemanha (os únicos que poderiam igualar o tetra) nas quartas-de-final, não foi fácil para muitos digerir os 3x0 de Zidane e sua trupe enfiaram nos comandados de Zagalo. O Brasil era a única seleção a vencer finais por goleada (5x2 na Suécia em 1958, inclusive com gol de Zagalo e 4x1 na Itália em 1970). Para quem nutre uma antipatia incondicional pelo velho gagá, foi até um tanto divertido, embora sádico.

Em 2006, a Copa que era impossível de perder, foi perdida. Para a França, nas quartas de final como em 1986. Com uma boa defesa (2 gols em cinco jogos), como em 1986. Mas não nos pênaltis. Quantos frustrados torcedores e admiradores da seleção brasileira não dariam seu reino por apenas um gol, apenas um gol que levasse a partida para a prorrogação e para os pênaltis. Que o Brasil perdesse a Copa, para a França, nos pênaltis, como há vinte anos atrás, para que só pudéssemos nos queixar da sorte, que não tivemos em 1986. Tudo o que os brasileiros queriam talvez fosse apenas mais alguns minutos de esperança ou sofrimento. Só isso.

Em Frankfurt, perdemos a Copa numa partida em que o goleiro adversário fez apenas uma defesa, nos descontos do segundo tempo. Fizemos um gol na Croácia, dois na Austrália, quatro no Japão e três em Gana. Para que? Parreira, o gênio por trás de frases como “ganhar não é a prioridade” e “o gol é apenas um detalhe” foi incapaz de montar um time capaz de marcar um gol na França. A Coréia do Sul fez gol na França.

Parreira e Zagalo perderam a Copa de 2006 tendo os melhores jogadores que o dinheiro pode comprar. Será que faltou o dinheiro dos outros que é mais bonito? Além da Copa, ambos perderam também o pouco de respeito que tinham conseguido com a conquista do tetra em 1994. De forma medíocre como eles, por sinal. Título nos pênaltis porque Roberto Baggio não converteu sua cobrança.

Onde estava o talento brasileiro quando mais se precisava dele? Onde estavam as jogadas mágicas de Ronaldinho Gaúcho, que tem seu prestígio abalado pela primeira vez na carreira quando o mundo inteiro esperou por elas? Perdidas em algum arquivo de imagens do Barcelona, clube pelo qual poderá ser campeão mundial?

O que dizer de Ronaldo, o homem que mais marcou gols em Copas do Mundo, tão pesado quanto a farsa montada por CBF, Rede Globo, Nike e etc. Vamos fazer uma relação completa de todos os gols marcados em Copas do Mundo por este fenômeno de peso.
1998: 1 contra Marrocos na primeira fase, dois contra o Chile nas oitavas e um contra a Holanda na semifinal.
2002: 1 contra a Turquia, 1 contra a China e dois contra a Costa Rica na primeira fase, um na Bélgica nas oitavas, 1 na Turquia na semifinal e dois contra a Alemanha na final
2006: 2 contra Japão na primeira fase e 1 contra Gana nas oitavas.

Além de Holanda e Alemanha, que outro time decente tomou gol de Ronaldo numa Copa? Gostaria muito que Klose marcasse três contra a Itália e três na final contra quem quer que fosse, para que a “espantosa” marca de Ronaldo durasse 12 dias.

O que dizer da utilização de Juninho como bode expiatório da pilantragem brasileira, escalando-o de titular numa escalação que jamais havia treinado junto?

Por falar em treinamentos, para que submeter seus horários aos da grade da Rede Globo e permitir cinco, dez mil pessoas assistindo e cobrando ingressos? Até que ponto se pode submeter um dos maiores patrimônios nacionais a isso? O dinheiro dos patrocinadores não é suficiente?

Será que a possibilidade de substituir o insubstituível Zinedine Zidane no Real Madrid mexeu com o equilíbrio de Kaká a ponto de ele simplesmente se omitir de participar da partida fatal?

No que se baseia o poder dos péssimos e decrépitos laterais Cafu e Roberto Carlos a ponto de permanecerem tanto tempo na seleção brasileira? Enquanto Zidane avisa que vai parar, eles insistem.

Será que algum jornalista vai perguntar a Roberto Carlos o que diabos ele estava pensando quando resolveu ajeitar a meia, ou urinar, na hora em que ninguém menos que Zidane iria cobrar uma falta na área brasileira?

Por que Cafu não se mancou de que após bater o tal recorde de jogos pela seleção brasileira em Copas do Mundo ele deveria se mancar e sair do time de forma voluntária? Maldito sejam os médicos que operaram seu joelho no início do ano. Deveriam ter esquecido um bisturi lá dentro.

Pois é, futuros trintões: tivemos a chance de estabelecer marcas que demorariam muito a ser batidas: quatro finais consecutivas, seis títulos mundiais... Alemanha e Itália, os tricampeões precisariam vencer a Copa três vezes consecutivas para igualar a marca. Ou seja, teríamos no mínimo até 2018 a exclusividade do penta. Disputando uma das semifinais, um deles poderá igualar já em 2010.

E para os que pensam que por ser na África do Sul o Brasil é favorito: o título que importava era o de 2006 que ficaria marcado indelevelmente na história seria em 2006, não adianta. Que graça tem ganhar uma Copa num país de pouca tradição no futebol? É a cara de Ronaldo: só faz gol nos fracos. Ah mas ele marcou na final contra a Alemanha? Pois é, com o goleiro abrindo, até eu.

Vamos ter que continuar a ouvir os velhos falando que futebol bom era no tempo de Pelé, que se jogava com amor à camisa, e toda essa ladainha. Vão à merda com essa história de amor à camisa. Isso é coisa pra Angola, Gana, times que estão engatinhando. Por que não jogar com amor próprio? Jogar para superar a história? Que se pense em dinheiro, mas que se pense um pouco também em si mesmo. Simples.

Torço agora que descubram mais falcatruas (é possível?) de Ricardo Teixeira e outros e suspendam o Brasil de competições internacionais, impedindo que participe da Copa de 2010. Uma copa no continente africano, sem o Brasil. Tomara.

“A derrota e a eliminação têm seu lado positivo. As pessoas vão pensar menos em futebol”.
Carlos Alberto Parreira, genial como sempre.

7 Comments:

At Monday, 03 July, 2006, Blogger Felipe Pimentel Lopes de Melo said...

Agora sim Maurício, me dou por sitisfeito. Gracias!

 
At Monday, 03 July, 2006, Anonymous Anonymous said...

Concordo com Camarão!!!!!

E vou mais além...

Morte a Ricardo Texeira!!!!
Fogo na sede da CBF!!!
E Maurício Targino na FIFA!!!!!



ass: Fred Elesbão

 
At Monday, 03 July, 2006, Blogger Maurício Targino said...

Obrigado a todos, mas quero o Dr. Socrates como vice!

 
At Monday, 03 July, 2006, Anonymous Anonymous said...

Sempre é bem interessante essas análises pós-Copa. Rendem até mais do que nas vitórias, visto que todos nos iludimos com essas falcatruas da CBF marcando amistosos contra Nova Zelândia, Lucerna (?!) e o time reserva do Ypiranga. Mas é aquela coisa... nós da geração "antes de 80" vimos o Brasil em diversas situações nas Copas passadas e até podemos nos conformar com algo do tipo "Oh, o Brasil não chegou na final!". Afinal, em 86, o time perdeu nas quartas. Em 90, nas oitavas, eliminado pelo time de Maradona. Em 94 foi uma surpresa tão grande ver que o time de Romário e Bebeto tinham chegado na final que até ganhando de "meio a zero" tava valendo. E por aí vai até nossa memória recente lembrar do que nem é mais preciso.
Só que em todas essas copas passadas o peso do marketing não era essa coisa avassaladora. Em 10 comerciais de TV, você via um jogador brasileiro em 6. E desses 6, 4 tinham Ronaldinho. É demais essa superexposição, né... Propaganda enganosa?! O que importa é justamente isso, quanto mais alto as ilusões, maior a descrença e decepção. Por isso é que ao contrário dos argentinos que foram saudados como heróis em Buenos Aires hoje, vimos esses covardes como Roberto Carlos e Parreira saindo pela porta dos fundos do hotel sendo hostilizados pela torcida do mundo inteiro. E mais uma vez cumprem-se tabus (a última copa que o Brasil ganhou na Europa foi na Suécia em 58), marcam-se recordes a serem superados (as 500 mil horas de Cafu) e mais lembranças a serem revividas e esquecidas nas próximas copas.

 
At Monday, 03 July, 2006, Anonymous Anonymous said...

Maurício, junte essas "crônicas" e publique um livro, seu porra!
Ia ligar pra tu pra te elogiar pelos textos e comentar com você sobre o curta da Copa de 78 que tá passando na Fundaj e tu nem liga esse danado desse celular, hehehe
Isso é um mala mermo! Abraços,

 
At Monday, 03 July, 2006, Blogger Maurício Targino said...

Jarminho, porra
Esse curta passou no filme livre no rio e eu perdi. Godamn. Eu tou em Paulo Afonso!

 
At Tuesday, 04 July, 2006, Anonymous Anonymous said...

TITANIC - O Filme

Só existe uma certeza sobre o que vai aconter: no final, o navio afunda. Foi assim que a seleção desapareceu: previsível, passiva e incapaz de reagir ao fatídico destino das profundezas...
Imagino o brilhante Capitão Smith, aqui vivido pelo nosso CAP - Carlos Alberto Parreira - navegando tranquilamente e pensando: - que noite linda... que maravilha... acelero ou mantenho a velocidade?. Smith acelerou, parreira diminiu, e ambos afundaram com seu navio invencível...
Mas, espere aí... quais seriam os outros protagonistas dessa eventura ? Seria o velho zagallo, a ansiã sobrevievente Rose... que após viver uma vida quente e cheia de romances tórridos morre quentinha e segura no seu colchão ( zagallo na cama = 13 letras ! ) ? Seria o Ilmo. Ricardo terixeira, o Jack, que numa cartada de sorte ( não ser preso por não existir justiça ) embarca nessa viajem e morre amado e esquecido no gelo? Seria a Globo, os músicos, que distrairam a tudo e a todos até o triste fim ( e continuam fantasmagoricamente até hoje... ) ? Não interessa. O fato é que, mais cedo ou mais tarde, nos deparamos com a mais fatal das realidades: Não há bote para todos !
É isso mesmo ! alguns milhares e por que não dizer, "180 milhões de corações brasileiros", vão padecer nessa estória...de tristeza, de indignação, de desilusão...
O futebol brasileiro deixou de acreditar na beleza e simplicidade da realidade e passou a se recalcar de esperanças infinitas... basta fecharmos os olhos e imaginarmos o noso futebol sem a Globo, sem a CBF/NIKE e sem os cartolas ( que acretidam priamente que nossos jogadores valem seu peso em ouro e, no fim, levam duas pernas e um braço de comissão.) que tudo vai melhorar... ou como diria o BRAHMADO Zeca Pagodinho: Bola pra frente brasil !
Ôpa ! mas espere ai ! estou acordado ! a realidade está aí... assim como o Iceberg francês: inderretível, e no mesmo lugar.
Em 2010 na África, sonho que o Brasil pegue a França o quanto antes, sem sentimento de revanche, claro!... pois assim é que tem que ser o fregês: sempre fiel. E por sua vez, o carrasco, tem que manter a lâmina afiada... Já estou me preparando para essa próxima jornada, em outro navio, provamente maior e mais seguro que este, com radar via satélite, frente a prova de gelo, e muitos outro dispositívos infalíveis de combate... mas e o botes ? Não precisa !!! AGORA É HEXA BRASIL !


POR CLEITON MATOS DE MORAIS

 

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