Wednesday, May 24, 2006

Favoritismo Traiçoeiro - Parte 01 (1938-1954)

Se há uma coisa que parece realmente atrapalhar em Copa do Mundo é o favoritismo. Independente da preparação técnico-psicológica, das circunstâncias ou do desempenho recente da equipe, parece haver uma estranha maldição a acompanhar seleções tidas como favoritas nos mundiais desde sua terceira edição, em 1938. A seleção francesa, representando o país-sede, poderia ser apontada como favorita, mas não a única. Além do mais, foi na França que nasceu um certo Jules Rimet, que acabou emprestando seu nome para batizar a taça disputada no torneio. Na França surgiu a FIFA e na França nasceu Lucien Laurent, primeiro jogador a marcar um gol em Copas do Mundo.

Além disso, nas duas edições anteriores, os anfitriões ficaram com a taça. O Uruguai, campeão de 1930, já havia conquistado o bicampeonato olímpico em 1924 e 1928, em disputas na Europa. Por estas implicarem em muitos gastos, não mandou equipe para a Copa de 1938, como já havia feito em 1934. A Itália, então campeã, seria outra favorita.

Foi então que nas quartas-de-final a Franca tornou-se o primeiro anfitrião a perder uma Copa do Mundo, eliminada pela própria Itália por 3x1 diante de quase 60 mil torcedores. Comandados por Giuseppe Meazza no campo, Vittorio Pozzo no banco e Benito Mussolini no governo, a Itália fascista vestida de preto começou a invasão da França, trabalho completado pelos nazistas alguns anos depois.

A Segunda Guerra Mundial, que explodiu no ano seguinte, paralisou as disputas por 12 anos. De 1950 em diante, o favoritismo exagerado quase sempre esbarra no inesperado, produzindo surpresas desagradáveis para aqueles que eram julgados vencedores antes da bola rolar.

1950, Brasil: a seleção do país-sede encanta a todos, marcando 21 gols nas cinco partidas que antecederam a finalíssima (13 deles nas duas imediatamente anteriores). Na decisão, no então maior estádio do mundo, diante da maior platéia já reunida numa partida de futebol (cerca de 200 mil espectadores), o Brasil perdeu para o Uruguai (em sua segunda participação em mundiais) por 2x1, após sair na frente no início da etapa final. Mesmo quem nem era nascido na época, não esquece. Esta copa também registrou aquela que é considerada a maior “zebra” de todos os tempos: a toda-poderosa Inglaterra, que não havia disputado nenhum dos mundiais anteriores por julgar que no restante do mundo não existiam adversários à altura, perdeu de 1x0 para a seleção dos Estados Unidos, formada quase que exclusivamente por amadores e semi-profissionais e foi desclassificada na primeira fase.

1954, Suíça: Puskas, Czibor, Kocsis e os Magiares da Seleção húngara haviam conquistado o ouro olímpico dois anos antes e não perdiam há três anos. Nesse meio-tempo, ousaram vencer por 6x3 a seleção inglesa em pleno estádio de Wembley. Na Copa, marcaram 25 gols (!) nas quatro partidas que antecederam a decisão, incluindo duas vitórias por 4x2 nos finalistas da Copa anterior, Brasil na quartas-de-final e Uruguai nas semifinais. Esta partida marcou a primeira derrota dos uruguaios em Copas. Na decisão, quando todos a apontavam os húngaros como campeões antecipados, eis que a seleção da Alemanha Ocidental vence de virada por 3x2. Detalhe: na primeira fase, húngaros e alemães se enfrentaram e o time de Puskas venceu por 8x3

(continua)

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